Fome

10-01-2012 00:20

Todos os dias, cerca de mil milhões de pessoas adormecem de estômago vazio. É a conclusão do relatório “World Disasters”, feito pela federação da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

O paradoxo é que o mundo produz alimentos que cheguem para toda a população.

Outro dado importante é que o número de famintos aumenta nas zonas urbanas e nos países ricos.

Mas esta praga atinge, com especial intensidade, a região Ásia-Pacífico e a África subsariana. O primeiro objetivo do milénio para o desenvolvimento estabelecido pela ONU, isto é, reduzir à metade a pobreza extrema e a fome não se conseguiu.

A desnutrição afeta, anualmente, 925 milhões de pessoas em todo mundo e custa a vida a 3 milhões de crianças com menos de cinco anos.

Hoje, 178 milhões de crianças de menos de cinco anos têm atrasos no crescimento devido à desnutrição. Os mil dias que vão da conceção ao segundo ano de idade decidem o futuro por causa da alimentação das mulheres, até porque 60% da população desnutrida no mundo é constituida por mulheres, segundo o relatório.

Uma das principais causas da crise alimentar é o aumento da inflação dos preços dos alimentos no período 2010-2011.

O que confirma que devem ser criadas defesas contra o problema dos mercados agrícolas instáveis e à volatilidade dos preços dos alimentos.

No Cairo, há precisamente um ano, Afaff queixava-se:

“Estou a fazer o possível para fazer refeições que durem dois ou três dias, mas está fora do meu controlo. Estou reformada, tal como o meu marido, e não podemos fazer nada. Estou a gastar um quarto da pensão na compra de legumes e não posso comprar fruta.”

A incapacidade do governo egípcio para controlar a espiral dos preços provocou protestos que acabaram por desencadear a revolução que levou à queda de Mubarak.

A prevenção da fome passa necessariamente pelo aumento do rendimento agrícola. O relatório interroga-se sobre a eficácia da política de ajudas aos pequenos produtores, nomeadamente em África, com resultados são decepcionantes.